Mateus 21.33-46
Introdução: A mensagem estudada
neste estudo é o texto da parábola dos lavradores maus ou dos vinhateiros
baseada no texto de Mateus 21.33-46 e podendo ser
encontrada também em Marcos 12.1-12 e Lucas 20.9-19 além de ser
encontrada também no texto apócrifo do evangelho de Tomé verso 65.
1. O texto bíblico: Mateus 21.33-46[1]
33. Ouvi ainda
outra parábola: Havia um homem, proprietário, que plantou uma vinha, cercou-a
com uma sebe, cavou nela um lagar, e edificou uma torre; depois arrendou-a a
uns lavradores e ausentou-se do país.
34. E quando
chegou o tempo dos frutos, enviou os seus servos aos lavradores, para receber
os seus frutos.
35. E os lavradores,
apoderando-se dos servos, espancaram um, mataram outro, e a outro
apedrejaram.
36. Depois
enviou ainda outros servos, em maior número do que os primeiros; e fizeram-lhes
o mesmo.
37. Por último
enviou-lhes seu filho, dizendo: A meu filho terão respeito.
38. Mas os
lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde,
matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança.
39. E,
agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e o mataram.
40. Quando, pois, vier
o senhor da vinha, que fará aqueles lavradores?
41. Responderam-lhe
eles: Fará perecer miseravelmente a esses maus, e arrendará a vinha a outros
lavradores, que a seu tempo lhe entreguem os frutos.
42. Disse-lhes Jesus:
Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que os edificadores rejeitaram, essa foi
posta como pedra angular; pelo Senhor foi feito isso, e é maravilhoso aos
nossos olhos?
43. Portanto eu vos
digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dę os seus
frutos.
44. E quem cair sobre
esta pedra será despedaçado; mas aquele sobre quem ela cair será reduzido a pó.
45. Os principais
sacerdotes e os fariseus, ouvindo essas parábolas, entenderam que era deles que
Jesus falava.
46. E procuravam prendê-lo,
mas temeram o povo, porquanto este o tinha por profeta.
2. Primeira aproximação do texto
a. Delimitação
O texto começa no início do versículo 33 que apresenta um começo de
conversa ou mudança de assunto com a frase “outra parábola ouvi”. Jesus havia
contado a parábola dos dois filhos motivado pelo questionamento de sua
autoridade, bem como de João Batista. O fim do texto é conclusivo do
versículo 43 a 46, onde Jesus aplica o significado da parábola aos
ouvintes e em seguida o texto transcreve a reação dos mesmos.
b. Tradução[2]
33. Outra
parábola ouvi. (um) homem[2] Havia[1] (um) dono de casa que plantou (uma) vinha
e (uma) cerca dela[2] pôs ao redor[1] e cavou em ela (um) lagar e construiu
(uma) torre e arrendou a mesma (=a vinha) a lavradores e foi viajar.
34. quando[2]
E[1] se aproximou o tempo dos frutos, enviou os servos dela para os lavradores
para receber os frutos dele.
35. E
tomando[3] os[1] lavradores[2] os servos dele a um espancaram, a outro mataram,
a outro apedrejaram.
36. Novamente
enviou outros servos mais do que os primeiros, e fizeram a eles
semelhantemente.
37. Por
fim[2] E[1] enviou a eles o filho dele dizendo: respeitarão o filho[2] meu[1].
38. os[2]
Mas[1] lavradores vendo o filho disseram entre si mesmos: Este é o herdeiro
vinde matemos o mesmo e tenhamos a herança dele,
39. e tomando
a ele lançaram fora da vinha e mataram.
40. quando
pois vier o senhor da vinha, que fará aos lavradores aqueles?
41. Dizem a
ele: (Aos) malvados horrivelmente destruirá a eles e a vinha arrendará a outros
lavradores, os quais entregarão a ele os frutos em os tempos deles.
42. Diz a
eles Jesus: nunca lestes em as Escrituras:
Pedra que rejeitaram os construtores,
esta se tornou em cabeça de esquina;
da parte de o Senhor aconteceu isto
e é maravilhoso em olhos[2] nossos[1]?
43. por isso
digo a vós que será tirado de vós o reino de Deus e será dado a nação que
produz os frutos dele.
44. [E o que
cai sobre pedra[2] esta[1] será despedaçado; sobre[2] quem[3] e[1] cair
reduzirá a pó o mesmo.]
45. e tendo
ouvido os principais sacerdotes e os fariseus as parábolas dele entenderam que
a respeito deles estava falando;
46. e
procurando a ele[2] prender[1] temeram as multidões, porque por profeta a ele
tinham[1].
c. Subdivisão
O texto inicia trazendo o primeiro verso com uma imediata introdução do
texto, descrevendo assim a preparação cuidadosa da vinha.
Dos versos 33 a 44 segue a narrativa com dois momentos ou
subdivisões. Esta introdução caracteriza nos versos 33 a 39 o
discurso de Jesus por parábolas e em um segunda situação nos versos 40
a 44 inquirindo sobre o entendimento da mensagem bem como condenado os
religiosos por matar os profetas e dando pistas de sua morte ao contar que uma
vez assinados todos os servos do proprietário só resta matar seu filho. Nos
versos 45 e 46 supõe que a citação encerra a discussão, mostrando a reação dos
ouvintes.
O tema central da parábola é a desobediência do povo de Israel.
O texto se desenvolve
em dois momentos:
1º- fala da
vinha e dos lavradores
2º- fala da
pedra e dos construtores
Do primeiro para o
segundo argumento, a vinha se transforma em pedra e os lavradores em
construtores:
Vinha = pedra = Israel
Lavradores = construtores = líderes religiosos
Estes são apenas
argumentos usados, pois assunto é o mesmo como já dito, a desobediência de
Israel, especialmente de seus líderes.
Primeiro a atenção é
voltada para os frutos que não
são colhidos, depois para os servos que
são maltratados, depois para o filho que
é morto e por fim retorna para os frutos que
deverão ser colhidos por outros lavradores.
O texto pode ser
subdividida em quatro momentos: primeiro a parábola contada, segundo a pergunta
chave para o entendimento da parábola, terceiro uma nova aplicação da parábola
com novo argumento e por último (quarto) a reação dos ouvintes.
A parábola contada
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33. Outra
parábola ouvi. (um) homem[2] Havia[1] (um) dono de casa que plantou
(uma) vinha e (uma) cerca
dela[2] pôs ao redor[1] e cavou em ela (um) lagar e construiu (uma) torre e
arrendou a mesma (=a vinha) a lavradores e
foi viajar.
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34. quando[2]
E[1] se aproximou o tempo dos frutos, enviou os servos dela
para os lavradores para receber
os frutos dele.
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35. E
tomando[3] os[1] lavradores[2]
os servos dele a um
espancaram, a outro mataram, a outro apedrejaram.
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36. Novamente enviou outros servos mais do que os primeiros, e fizeram a eles
semelhantemente.
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37. Por
fim[2] E[1] enviou a eles o filho dele dizendo: respeitarão o filho[2] meu[1].
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38. os[2]
Mas[1] lavradores vendo o filho disseram entre si mesmos: Este é
o herdeiro vinde matemos o mesmo e tenhamos a herança dele,
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39. e
tomando a ele lançaram fora da vinha e
mataram.
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Questionamento
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40. quando
pois vier o senhor da vinha, que
fará aos lavradores aqueles?
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41. Dizem a
ele: (Aos) malvados horrivelmente destruirá a eles e a vinha arrendará a outros lavradores, os quais entregarão a ele os frutos em os tempos deles.
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Aplicação da parábola
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42. Diz a
eles Jesus: nunca lestes em as Escrituras:
Pedra que rejeitaram os construtores,
esta se tornou em cabeça de
esquina;
da parte de o Senhor aconteceu
isto
e é maravilhoso em olhos[2]
nossos[1]?
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43. por
isso digo a vós que será tirado de vós o reino de Deus e será dado a nação
que produz os frutos dele.
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44. [E o
que cai sobre pedra[2] esta[1]
será despedaçado; sobre[2] quem[3] e[1] cair reduzirá a pó o mesmo.]
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Reação dos ouvintes
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45. e tendo
ouvido os principais sacerdotes e os fariseus as parábolas dele entenderam
que a respeito deles estava falando;
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46. e
procurando a ele[2] prender[1] temeram as multidões, porque por profeta a ele
tinham[1].
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d. Crítica Textual
O texto é apresentado
em forma de parábola tendo o propósito e desvendar e ilustrar um assunto. Os
textos do evangelho de Mateus certamente são fruto e conteúdo de sua pregação
na comunidade e o tema ainda devia ter relevância para os mesmos talvez ainda confrontando
a comunidade mateana (de Mateus) que era judaizante para a aceitação do povo
gentio cristão, ainda que o próprio Mateus tenha apresentado seu texto com
embasamento judaico [3].
O texto pressupõe um claro desafio de Jesus às lideranças políticas e
religiosas da época que buscavam subtrair uma resposta aberta sobre o poder de
Jesus. Por isso o Mestre contra-atacava com perguntas que não podiam responder.
A linguagem por isso às vezes parece ser agressiva.
2. Segunda Aproximação do texto
a. Leitura Sincrônica: Análise linguística sistemática
A tradição acerca da
criação e desobediência de Adão e Eva não sabendo administrar bem o jardim que
Deus criou e Caim o lavrador que matou seu irmão que havia oferecido a Deus um
cordeiro, certamente é a fonte primária deste tipo de alegoria que compara a
vinha com o povo de Deus e os lavradores com os pecadores.
A narração do
texto faz referência ao cântico da vinha de Isaías 5.1-8 fazendo alusão à
classe dirigente como também é feita por Isaías declarando que a vinha é Israel
(Isaías
5.7) e os administradores além de a administrarem mal tramavam se apropriar
dela. Também o Salmo 80.8-16 traz o cântico da vinha em forma de uma oração
pedindo a proteção da vinha que mais uma vez é interpretada como Israel.
Ainda no versículo 42
o autor cita o Salmo
118.22 ilustrando o ‘apedokimson’ (rejeitado) que entendia-se
sendo Davi o filho que foi rejeitado e aplicando-o a Jesus. A lógica da
narrativa também levou à introdução da figura do filho único.
Outra lembrança que o texto faz é da lei mosaica que ensinava que após
sete anos de arrendamento da terra, esta deveria ser devolvida ao seu
proprietário original (Deuteronômio 15.1 e 31.10). Isso fez o povo
entender que tinham direito de reivindicar seus direitos e as autoridades que
já tinham usufruído demais do povo.
b. Leitura Diacrônica: Análise Literária
A bíblia de Jerusalém
traz um interessante comentário sobre a forma literária deste texto:
“Não é bem uma ‘parábola’, mas sim uma ‘alegoria’, porque cada pormenor
da narrativa tem a sua significação: o proprietário é Deus; a vinha é o povo
eleito, Isarael (cf. Is
5,1+); os servos são os profetas; o filho é Jesus, morto fora dos muros de
Jerusalém; os vinhateiros homicidas são os judeus infiéis; outro povo aquemserá
entregue a vinha, são os pagãos”[4].
O texto está inserido
em um contexto de vários episódios ocorridos na Galiléia dentre outros
acontecimentos. Isso pode ser percebido na leitura dos capítulos 19, 20 e 21
onde os textos estão ligados entre si pela sua estrutura narrativa quase
idêntica, pois neles Jesus volta sua atenção à uma discussão com seus
adversários, num diálogo de perguntas e respostas.
O texto é coeso. Não há quebra em seu sentido, trazendo de forma bem
clara o seu discurso. Quanto à sua autenticidade, o texto também não apresenta
problemas. Em comparação com a mesma parábola relatada em Marcos e Lucas
percebe-se que estão de acordo entre si na sequência dos fatos, principalmente
por terem provavelmente seguido a fonte do evangelho de Marcos ou mesmo o
evangelho de Tomé que também traz a parábola de forma mais resumida.
- Análise da Redação
O texto é
propriamente a continuação da resposta que Jesus dá ao sinédrio quando após ter
entrado triunfalmente no Templo (Mateus 21.1-11), ter purificado o
Templo (Mateus
21.12-13), curado muitas pessoas ali (Mateus 21.14-17) e ao sair da cidade
ter feito secar a figueira (Mateus 21.18-22), é então questionado sobre sua
autoridade (Mateus
21.23-27) e como refutação, tendo já contado a parábola dos dois filhos (Mateus 21.28-32) prossegue com esta
parábola revelando não somente a trajetória bíblica dos profetas como também
seu próprio futuro. Estas narrativas têm em comum apontar para a substituição
de Israel3 na história da salvação.
Os textos que seguem
a parábola nos capítulos 22, 23 são a continuação da discussão com os fariseus
onde Jesus continua o tema com a parábola das bodas (Mateus 22.1-14) e em seguida aborda
assuntos polêmicos como a questão do tributo (Mateus 22.15-22), a ressurreição (Mateus 22.23-33), o grande
mandamento (Mateus
22.34-40), revela-se como Filho de Davi (Mateus 22.41-46) e continua o
capítulo 23 censurando os fariseus e preparando seus ouvintes para seu discurso
escatológico no capítulo 24.
Sendo assim, o texto é um eixo entre as discussões dos temas religiosos
da época e o tema da salvação proposto por Jesus. O entendimento da parábola se
torna uma chave para entender a história de Israel e a revelação de Jesus
Cristo.
3. Hermenêutica
a. Análise das Formas
Jesus contava
histórias muito ligadas à maneira de viver do povo da Galiléia, por isso os
exemplos quase sempre estavam ligados à vida rural e agrícola. Na comunidade
mateana prosseguiu-se o uso de parábolas para refletir sobre a situação social
que viviam. Os confrontos de poder romano e resistência popular judaica quase
sempre eram expressadas em torno de ações simbólicas como o uso de alegorias.
A palavra mais
repetida é lavradores (ἀμπελῶνα) seis vezes; depois vinha (γεωργοῖς) e frutos (καρπῶν) quatro vezes cada
uma; em seguida servos (δούλους) e filho (υἱὸν) três vezes cada uma e por fim pedra (λίθον) duas vezes. O verbo mais
enfatizado é enviar (ἀπέστειλεν) três vezes citado indicando a missão
de Deus para com seu povo.
Segundo Adolfo
Castaño Fonseca[5] a estratégia
de contar parábolas era uma forma de pregação muito usada no discipulado de
Jesus que lhe permitia conhecer e compartilhar as histórias do povo falando
numa linguagem que lhes fosse acessível.
b. Análise da História e Tradições
Para entender a
passagem em seu sentido, é preciso conhecer a situação dos arrendatários do
século I d.C. Geralmente os arrendatários trabalhavam nas terras alheias porque
haviam perdido suas propriedades devido ao endividamento junto a nobres ou
sacerdotes. Joaquim Jeremias diz:
“não só o vale do Jordão, mas provavelmente também a margem Norte e
Nordeste do Lago de Genezaré e parte do Planalto Galileu, tinham naquele tempo
caráter de latifúndio estando em mão de estrangeiros”[6].
O caráter
latifundiário de outros lugares do Planalto Galileu era devido ao fato de que
era originalmente terra do rei e as terras da Palestina do primeiro século eram
controladas pela elite herodiana, pelo sacerdócio, anciãos, escribas, pelo
procurador romano e por cidades gentias (Decápolis).
O arrendatário podia
pagar uma determinada quantia fixa pelo uso da terra ou entregar uma
porcentagem da colheita, que normalmente era de 50%. Os arrendatários viviam em
situação de dependência em relação ao proprietário, mas tinham uma situação
melhor do que os diaristas. Essa parábola revela a existência de duas classes:
a dos proprietários ricos e dos camponeses empobrecidos por dívidas. Essa era a
organização sócia da época que continha mecanismos para desapropriar terras de
pequenos proprietários.
Era comum os
estrangeiros comprarem fazendas em Israel que alugavam aos galileus. Os donos
moravam em terras longínquas; enviavam súbditos para cobrar o aluguel. O
auditório imediato de parábola são os “príncipes dos sacerdotes e os fariseus”.
No v.45, “ao ouvir isto, os príncipes dos sacerdotes, entenderam que
falava para eles”.
c. Análise do conteúdo do texto
- PERSONAGENS
O texto cita os
seguintes personagens, que eram comuns para o local e a cultura:
Dono da casa (οἰκοδεσπότης ):
proprietário, chefe de família, talvez até latifundiário
Lavradores (γεωργοῖς):
Servos (δούλους): emissários do dono. Executivos
de sua vontade.
Filho (υἱὸν): autoridade máxima. É o mesmo
que o dono vir em pessoa.
- LUGARES
O texto
cita lugares comuns ao ambiente da época e região:
Vinha (ἀμπελῶνα): plantação de uvas. Uma das
principais atividades agrícolas da Palestina. Símbolo da nação de Israel: Is 5.1-2; 27.2; Jr 2.21; Jl 1.7.
Lagar (ληνὸν): dispositivo de dois
"tanques", um mais alto do que o outro, onde o mais alto
comunicava-se com o mais baixo por um pequeno canal. No primeiro as uvas eram
pisadas e o suco escorria para o segundo.
Torre (πύργον): para vigiar a vinha, servir de armazém e de alojamento
para os agricultores.
- AÇÕES
O texto
cita ações negativas dos maiorais que marcavam o povo:
Cercou-a de uma sebe (φραγμὸν αὐτῷ περιέθηκεν): proteção contra ladrões e animais selvagens, além de
impedir a entrada dos pobres que vinham apanhar restos da colheita.
Arrendar (ἐξέδετο): aluguel de terras muito comum.
O preço podia ser fixado em dinheiro ou, como neste caso, em frutos.
Podia ser uma quantia fixa ou uma percentagem da colheita (geralmente 1/3
da mesma).
Ausentar-se do país (ἀπεδήμησεν): comum para os ricos (Mt 25.14). Mostra confiança.
Espancar, matar e apedrejar (ἐλιθοβόλησαν, ἀποκτείνωμεν, ἐλιθοβόλησαν ): ações agressivas que lembram o tratamento comum
recebido pelos profetas. (Mt 22.6; 23.31,35,37)
Matar o filho e se apoderar da
herança (δεῦτε ἀποκτείνωμεν αὐτὸν καὶ σχῶμεν τὴν κληρονομίαν): pelas leis vigentes na época,
uma propriedade sem dono poderia ser tomada pelo que primeiro a ocupasse. Os
agricultores, vendo o filho, provavelmente único, pensaram: o dono (pai) morreu
e agora matando o herdeiro a terra estará "sem dono" e, portanto,
será nossa.
d. Análise da Teologia do texto
O significado
alegórico da parábola aponta para sua origem na comunidade primitiva, o
contexto social da época. O envio dos emissários era usado para manter uma
vinha no estrangeiro e o aparentemente insensato envio do filho depois do envio
dos servos explica-se pelo fato de que o filho também era dono. Além disso,
indica que todo bem (propriedade) que fica sem proprietário por muito tempo
pode ser apropriado por outra pessoa.
Um fato interessante
é que a parábola conta que a terra foi transformada em vinhedo e para isso era
preciso se muito rico, porque a terra levava quatro anos para produzir pela
primeira vez. Além disso, ao ser transformada em vinhedo, a terra deixava
de ser cultivada para outras culturas úteis aos camponeses como grãos e legumes
e se tornava uma lavoura cuja colheita só tinha utilidade econômica para o
homem rico.
Os ouvintes
camponeses entre a multidão teriam entendido a parábola só depois de
reconhecerem sua aplicação, isto é, ao perceberem que os arrendatários
distantes e violentos eram a elite de Jerusalém que a tinham sob o domínio
romano.
A teologia da
parábola tem muito sentido de protesto social, como disse Joaquim Jeremias em
seu livro As parábolas de Jesus:
“A parábola retrata realisticamente o ânimo revolucionário dos
camponeses galileus contra os latifundiários estrangeiros, excitados pelo
zelotismo que tinha sua sede na Galileia” [7].
e. Atualização da Mensagem
Para nós, cristãos,
talvez seja natural entender os elementos da parábola da seguinte forma: o dono
da vinha é Deus, o herdeiro é Jesus, os lavradores/arrendatários são os judeus.
Contudo, esta interpretação simples é, muito provavelmente, fora da
interpretação dos ouvintes de Jesus.
É preciso pensar bem
na interpretação usual cristã da parábola por dois motivos:
antisemitismo: intenção de
condenar os judeus por terem matado Jesus;
contextualização puramente espiritual: Jesus estava muito
interessado na situação social precária de seus contemporâneos.
Mas pelo menos em um
ponto a interpretação cristã está de acordo com o entendimento original da
parábola: o dono da vinha é o próprio Deus.
O personagem que se
destaca certamente é o filho que também era dono da vinha e veio cuidar do que
é seu. Deste modo podemos entender que Deus ao nos alcançar com sua graça nunca
nos deixa desprotegidos. Como o agricultor cercou a vinha, fez a torre e o
lagar, colocou lavradores responsáveis sobre ela e mandou seus servos de tempo
em tempo para colher seu fruto, não se intimidando com a má recepção e enviando
seu próprio filho. Assim Deus também cuida de nós e além de plantar cuida e
vigia, mas também julga porque deseja colher frutos dignos em nossas vidas.
A Bíblia Nova Vida
traz uma explicação interessante sobre o sentido desta parábola afirmando que a
parábola tem três ensinamentos: sobre Deus, sobre os homens e sobre Cristo[8].
A parábola da vinha ensina que:
a) Deus é:
1. É muito bom.
2. Confia sua vinha ao ser humano.
3. É paciente para com os pecadores.
4. Mas julgará a rebeldia.
b) A humanidade :
1. Recebe muitos privilégios de Deus.
2. Tem liberdade de atuação.
3. Tem responsabilidade para com Deus.
4. É rebelde contra Deus.
c) Jesus:
1. Tem direito de Filho de Deus.
2. Foi morto por nossa culpa.
3. Se rejeitado, trará juízo.
4. É a pedra angular que não pode ser rejeitada.
A atualização da
mensagem desta parábola é simples podendo nos colocar ora como a vinha, ora
como lavradores ou até mesmo como servos, a partir da reflexão:
Se somos a vinha, como podemos
frutificar para o Reino de Deus correspondendo a expectativa divina?
Se somos os lavradores, como temos cuidado de tudo que Deus
tem nos proporcionado? De algum modo pessoas nos são enviadas por Deus para
receber de nós o que Deus nos tem dado para cuidar e então podemos atender
os pequeninos (Mateus 18.10).
Se somos os servos, não precisamos
temer os confrontos e perseguições porque muito pior sacrifício foi enfrentado
pelo Filho, Jesus Cristo ao ponto de entregar sua vida por nós.
Conclusão
O desafio da exegese
permanece como o descobrir do profundo oceano ou da longitude do universo. A
cada olhar uma surpresa. E até mesmo conceitos já solidificados pela tradição
simplista que temos de tudo, são modificados com o estudo e somos forçados a
aprender a olhar com um olhar diferente. Como do artista que não vê na pintura
apenas a paisagem, mas a técnica, o tema, a mistura de cores, a textura e
falhas.
Sendo assim, com este
estudo aprendemos como apreender e a caminhada do estudo exegético precisa
continuar daqui pra frente numa busca profunda pelo saber e saber da Palavra de
Deus, semelhante ao homem que buscou um tesouro escondido no campo e vendeu
tudo para comprar aquele campo (Mateus 13.44).
Referências:
HALLEY, Henry H. Manual Bíblico. São
Paulo : Vida Nova, 1993.
BÍBLIA. Português. Bíblia Vida Nova. Trad.
João Ferreira de Almeida. 13. ed. rev. São Paulo : Vida Nova, 1990. p.32.
JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São
Paulo: Paulinas, 1986. p.78.
Discipulado e Missão no Evangelho de Mateus. Adolfo
M. Castaño Fonseca. Coleção V Conferência. São Paulo: Paulus e Paulinas: 2007.
p. 40.
JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São
Paulo: Paulinas, 1986. p.122.
BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. 7.
ed. rev. São Paulo : Paulus, 1995. p. 1879.
SALDARINI, Anthony J., A Comunidade Judaico-Cristã
de Mateus, São Paulo, Paulinas, 2000, 360 pp.
SCHOLZ, Vilson
& BRATCHER, Robert. (org). Novo Testamento Interlinear Grego
- Português. Incluindo o texto da tradução de João Ferreira de Almeida,
Revista e Atualizada no Brasil, segunda edição e da Nova Tradução na Linguagem
de Hoje. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
SBB, Bíblia Almeida Revista e Atualizada no Brasil
Hendriksen, William Mateus São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001, Vol. 1, 2
COENEN, Lothar
& BROWN, Colin.(Ed). – Dicionário Internacional de
Teologia do Novo Testamento – São Paulo, S.P.: Vida Nova, 2000. VOL 1
e 2
PINTO, Carlos Osvaldo Cardoso. Fundamentos
para exegese do Novo Testamento: manual de sintaxe grega. 1ª ed. São
Paulo – SP: Edições Vida Nova, 2002.
[1] SBB, Bíblia Almeida Revista e Atualizada no
Brasil
[2] SCHOLZ, Vilson & BRATCHER, Robert.
(org). Novo Testamento Interlinear Grego - Português.
Incluindo o texto da tradução de João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada
no Brasil, segunda edição e da Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri:
Sociedade Bíblica do Brasil, 2004.
[3] SALDARINI, Anthony J., A Comunidade
Judaico-Cristã de Mateus, São Paulo, Paulinas, 2000, 360 pp.
[4] BÍBLIA. Português. A Bíblia de Jerusalém. 7.
ed. rev. São Paulo : Paulus, 1995. p. 1879.
[5] Discipulado e Missão no Evangelho de Mateus. Adolfo M. Castaño
Fonseca. Coleção V Conferência. São Paulo: Paulus e Paulinas: 2007. p. 40.
[6] JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São Paulo: Paulinas,
1986. p.122.
[7] JEREMIAS, Joaquim, As Parábolas de Jesus. São Paulo: Paulinas,
1986. p.78.
[8] BÍBLIA. Português. Bíblia Vida Nova. Trad.
João Ferreira de Almeida. 13. ed. rev. São Paulo : Vida Nova, 1990. p.32.