Tema: AMIZADE
Jó 2.11-13
Introdução: Quando os amigos de Jó
ficaram sabendo que ele estava sofrendo luto, perdas e dores físicas, logo
foram visitá-lo. Eles foram juntos com o propósito de “condoer-se e consolá-lo” (v.11) e
realmente ficaram com dó de Jó quando “levantando eles de longe os olhos e não o reconhecendo,
ergueram a voz e choraram” (v.12). Ficaram juntos com Jó em silêncio por sete
dias (v.13),
mas depois tentaram consolar seu amigo com argumentos próprios sem saber que se
tratava de algo espiritual (Jó 1 e 2). Jó estava sozinho, até sua mulher
estava descrente (Jó 2.9), então precisa de ajuda. A maior parte do livro de Jó é dedicada aos diálogos com seus amigos.
Você tem amigos?
Vamos
refletir nas palavras dos amigos de Jó para reconhecer alguns tipos de amizade:
1- Elifaz e a EXPERIÊNCIA
O primeiro amigo a falar foi Elifaz, o temanita por
que era da região de Temã. O discurso de Elifaz é baseado na experiência de
vida, relembrando exemplos bons da vida de Jó (Jó 4.3-4), bem como momentos ruins (Jó 22.7-10).
Talvez Elifaz fosse o mais velho de todos ali, por isso foi o primeiro a ter
direito à palavra. Os três discursos de Elifaz estão nos capítulos 4, 5, 15 e 22
do livro de Jó.
Note as palavras de Elifaz para seu amigo Jó quanto à experiência:
-Experiências do
próprio Jó: Elifaz
tenta lembrar seu amigo de situações que já tinha enfrentado e vencido,
dizendo: “eis que tens ensinado a muitos e tens fortalecido mãos
fracas. As tuas palavras têm sustentado aos que tropeçavam, e os joelhos
vacilantes tens fortificado. Mas agora, em chegando a tua vez, tu te enfadas;
sendo tu atingido, te perturbas” (Jó 4.3-5). Além disso, diz
que Jó teve outras oportunidades de ajudar outras pessoas, mas não fez (Jó 22.7-10)
por isso estava precisando ser ajudado para sentir na pele a necessidade.
-Experiências de
outras pessoas: depois
Elifaz recorda Jó de fatos que ocorreram a outras pessoas: “lembra-te: acaso, já pereceu algum inocente? E onde foram
os retos destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram a iniquidade e
semeiam o mal, isso mesmo eles segam” (Jó 4.7-8). Se Deus é justo com
outas pessoas também o seria com Jó. Também advertiu “queres seguir a rota antiga, que os homens
iníquos pisaram?” (Jó 22.15), pois se Jó pecasse também seria
castigado.
-Experiências de
Elifaz: então
começa a dizer sobre suas próprias experiências pessoas dizendo “quanto a mim, eu buscaria a Deus e a ele entregaria minha
causa” (Jó 5.8) e chama atenção para seus
conselhos “escuta-me,
mostrar-to-ei; e o que tenho visto te contarei” (Jó 15.17).
Sem saber a dor que havia em seu amigo, Elifaz acha que também já sofreu como
Jó. Os conselhos de Elifaz são “reconcilia-te” (Jó 22.21) e “se te converteres” (Jó 22.23),
mostrando-se como alguém que tem experiência com Deus.
As experiências de vida nunca podem ser desprezadas
porque “a
tribulação produz perseverança, e a perseverança, experiência; e a experiência,
esperança” (Romanos 5.3,4). Mas as experiências de cada um
são diferentes e até com uma mesma pessoa, as situações são diversas em cada
momento.
Existem amigos, como Elifaz, que acham que ‘ele
faz’, ou seja, baseiam em sua própria sabedoria e conhecimento achando-se superiores.
Se você tem um amigo que se acha muito sábio, com ar de superioridade, este não
é um verdadeiro amigo que se coloca, junto ou no lugar do próximo.
Procure amigos
experientes, mas que sejam humildes!
2- Bildade e a VAIDADE
O segundo amigo de Jó a tentar lhe consolar foi
Bildade, o suíta, pois vinha da região de Suá. O argumento de Bildade era
quanto às vaidades do mundo, mostrando a seu amigo que tudo passaria. Os três
discursos de Bildade nos capítulos 8, 18 e 25 do livro de Jó mostram que se preocupava
muito com as vaidades dos seres humanos.
Perceba os argumentos de Bildade:
-Vaidade do tempo:
Bildade mostra
que tudo passa “porque
nós somos de ontem e nada sabemos; porquanto nossos dias sobre a terra são como
a sombra” (Jó 8.9). Faz também uma comparação com plantas
que são belas, mas secam (Jó 8.11,12) e com uma teia de aranha que não tem
firmeza (Jó
8.14-18). Lembra também que outras pessoas já viveram e sofreram
tanto como Jó (Jó
8.8-10) e que tudo que estava vivendo iria passar rapidamente (Jó 8.7, 21,22).
-Vaidade das
palavras:
Bildade repreende seu amigo por falar demais “até quando falarás tais coisas? E até quando
as palavras da tua boca serão qual vento impetuoso?” (Jó 8.2),
pois para Bildade não adiantava ficar falando, mas sim confiar em Deus (Jó 8.5,6).
Por isso chama atenção “até quando andarás à caça de palavras? Considera bem, e,
então, falaremos” (Jó 18.2), achando que Jó estaria exagerando em
suas palavras, embora na verdade estava apenas desabafando.
-Vaidade dos
homens: Bildade
defende a justiça Divina e afirma que o homem é pecador (Jó 25.1-6), injusto e merecedor de
todo sofrimento, “por
que somos reputados por animais, e aos teus olhos passamos por curtos de
inteligência?” (Jó 18.3). Ainda fala quanto aos que são maus que
serão frustrados se pensam que não têm castigo (Jó 18.5-10). Descreve o futuro
de quem não confia em Deus dizendo que “tais são, na verdade, as moradas do perverso, e este é o
paradeiro do que não conhece a Deus” (Jó 18.21). Com este argumento,
Bildade diz que tanto os filhos de Jó pagaram pelos seus erros (Jó 8.4)
como o próprio Jó era merecedor disso tudo.
O discurso de Bildade é muito sábio, quanto às
doutrinas das Escrituras, mas são desprovidos de sentimento. Enquanto afirma
que tudo passa, o tempo, as palavras e as intenções humanas, Bildade não
reconhece a dor de seu amigo que a cada segundo é longo por causa de suas
feridas e angústia. Jó precisava desabafar o que sentia e estava disposto a
buscar a Deus.
Existem amigos que são como Bildade, uma verdadeira
‘beldade’, ou seja, falam palavras bonitas, porém não sentem o que estamos
sofrendo. São pessoas que só pensam em si mesmas. Para eles mais vale o seu
próprio eu e suas vaidades do que compartilhar o que vivemos. Se você perceber vaidade, orgulho ou arrogância
em uma pessoa saiba que esta não é uma amizade verdadeira.
Cuidado com
amigos que são vaidosos!
3- Zofar e o LEGALISMO
O terceiro amigo a falar com Jó foi Zofar, o
naamatita, pois era da região de Naamá. O discurso de Zofar foi legalista. Acusou
Jó de estar pagando pelos próprios erros. Não se importava com o sofrimento de
seu amigo, preferindo assistir mais um julgamento Divino condenando-o por seus
pecados. Os dois discursos de Zofar estão nos capítulos 11 e 20 do livro de Jó.
Percebe-se o legalismo nas palavras de Zofar:
-Legalismo da
religiosidade: no
primeiro discurso de Zofar, no capítulo 11, faz
uma linda pregação sobre a bondade e justiça de Deus ensinando ‘verdades’ que
Jó não saberia (Jó
11.1-4). Defende a sabedoria de Deus (Jó 11.5-10) e condena os pecadores
como merecedores de castigo (Jó 11.11,12 e 20). Depois dá conselhos a Jó que
se arrependa e volte a buscar a Deus (Jó 11.13-19).
-Legalismo das
opiniões: Zofar
se achava muito entendido e por isso falava baseado nas suas próprias opiniões
“visto que os
meus pensamentos me impõem resposta, eu me apresso” (Jó 20.2)
e que “o meu
espírito me obriga a responder segundo o meu entendimento” (Jó 20.3b).
Para Zofar valia mais estar do lado certo, ou seja, com a razão, do que apoiar
seu amigo.
-Legalismo de
acusações:
Zofar também argumenta que Jó era muito rico porque “oprimiu e desamparou os pobres, roubou casas
que não edificou” (Jó 20.19) então não poderia continuar na
prosperidade (Jó
20.15-18). Convicto disto, Zofar deseja toda sorte de castigos
para Jó (Jó
20.20-28), dizendo que “tal é, da parte de Deus, a sorte do homem perverso, tal a
herança decretada por Deus” (Jó 20.29). Para Zofar a justiça estava acima dos
sentimentos.
Zofar parte do pressuposto de que Jó é injusto e
está em pecado, esquecendo-se que também era pecador. O tom das palavras de
Zofar mostra que sua religiosidade era a resposta para tudo.
Pessoas legalistas são insensíveis, não se importam
com o sofrimento alheio e sempre encontram um motivo que justifique o que aconteceu.
Para estas pessoas as causas justificam tudo, doa a quem doer. Um verdadeiro
amigo socorre ao seu próximo e não lhe acusa ou deseja o mal. Se você conhece
alguém que valoriza mais as normas e religiosidade do que a vida das pessoas,
então não é um verdadeiro amigo.
Cuidado com
amigos legalistas!
4- Eliú e a MISERICÓRDIA
O último amigo que falou com Jó foi Eliú, que parece
ter chegado depois, ou não foi citado antes porque era mais jovem que os outros
(Jó 32.4 e6).
Eliú era educado e esperou sua vez de falar (Jó 32.4,5), mas ficou nervoso “contra os três
amigos, porque, mesmo não achando eles o que responder, condenavam a Jó”
(Jó 32.3).
Também se irritou com Jó por ter caído nas argumentações de seus três amigos
tentando se defender pela sua própria experiência, vaidade e legalismo
(Jó 32.2),
pois isto seria auto justificar-se diante de Deus ao invés de buscar sua
misericórdia. O longo discurso de Eliú está nos capítulos 32, 33, 34, 35, 36 e 37 do livro de Jó.
Eliú conduz a conversa para misericórdia:
-Misericórdia em
vez de experiência: Eliú descobre que de nada adianta ter experiência de vida sem conhecer
a misericórdia de Deus, pois antes “dizia eu: falem os dias e a multidão dos anos ensine a
sabedoria” (Jó 32.7). Depois descobre que “os de mais idade
não é que são mais sábios, nem os velhos, os que entendem o que é reto”
(Jó 32.9).
Não adianta falar muito porque “só gritos vazios Deus não ouvirá” (Jó 35.13),
nem basear-se em conhecimentos humanos, mas buscar sabedoria em Deus “que nos ensina” (Jó 35.11).
Eliú entende que quando o homem reconhece a grandeza de Deus e sua pequenez
diante do Senhor então conhece a verdadeira sabedoria revelada por Deus (Jó 33.14,15).
-Misericórdia e
não vaidade:
Eliú reconhece suas limitações sentindo-se constrangido (Jó 32.18), mas declara que “não sei lisonjear”
(Jó 32.22)
e é humilde com “sinceridade
do meu coração” (Jó 33.3). Reconhece como todos são pequenos
diante de Deus e precisam se arrepender (Jó 34.19-23). Eliú descreve a soberania e
perfeição de Deus acima de todas as coisas (Jó 36.24-33) e por isso todos devem se render ao
Senhor (Jó 37.1-23),
“por isso os
homens o temem, Ele não olha para os que se julgam sábios” (Jó 37.24).
Ao perceber a arrogância dos três amigos, vê que estavam mais preocupados em se
mostrar sábios, do que em ajudar Jó.
-Misericórdia e
não legalismo:
Eliú não defende Jó nem seus amigos (Jó 32.15) e promete que “não farei acepção de pessoas” (Jó 32.21)
colocando-se no mesmo patamar de pecador que os outros, “também sou formado do barro” (Jó 33.6).
Chama atenção de Jó quanto às suas defesas mostrando que Deus é maior que tudo
(Jó 33.8-13).
Reconhece os livramentos de Deus (Jó 33.23-26) e que “tudo isto é obra de Deus” (Jó 33.29)
com propósito para o bem e não para o mal (Jó 34.12-15). Eliú corrigiu Jó por se defender para
não ser rebelde (Jó
34.37) se não reconhecesse a grandeza de Deus (Jó 35.1-7), que é bom dando sempre
oportunidades (Jó
36.11) então precisava se confessar reconhecendo-se como pecador ao
invés de se justificar (Jó 36.12-21). Eliú percebe que os três amigos de
Jó o estavam condenando ao invés de ensinar sobre a misericórdia e perdão de
Deus.
As palavras de Eliú foram como bálsamo, mesmo que
confrontando o ambiente de auto piedade onde Jó tentava se condoer diante da
insensibilidade de seus ‘amigos’. Enquanto Jó se justificava em vez de reconhecer
a justiça de Deus, seus amigos, o condenavam em vez de ajudá-lo. A sabedoria de
Eliú se destaca porque apresenta a Jó um Grande Amigo que é o Deus
misericordioso e que pode mudar todas as coisas. Então Jó se lembrou “como fui nos dias
do meu vigor, quando a amizade de Deus estava sobre a minha tenda” (Jó 29.4).
O Deus que para Jó tinha se tornado um inimigo castigador e irado, agora se
revela cheio de bondade e amor, graças ao ensino do jovem Eliú, que conhecia a
misericórdia Divina.
Amigos como Eliú sempre chegam na hora certa, são
sábios, respeitosos e acima de tudo colocam Deus em primeiro lugar. São pessoas
que não se julgam superiores, nem melhores, mas procuram se colocar em nosso
lugar. A palavra misericórdia significa ‘miséria do coração’ e tem o sentido de
sentir a dor do outro.
Ao invés de julgar por nossa experiência pessoal,
pela vaidade de se achar melhor ou condenar com legalismo é melhor fazer como
Jesus disse “bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5.7).
Procure amigos
que conheçam a misericórdia de Deus!
Faça amigos verdadeiros!
CONCLUSÃO
Jó 42.10 “Mudou o SENHOR a sorte de Jó, quando este orava pelos seus amigos;
e o SENHOR deu-lhe o dobro de tudo o que antes possuíra”
A vida Jó mudou depois que aprendeu a orar por seus
amigos. Jó sabia que precisava de amigos verdadeiros, mas que acima de tudo
dependia de Deus e que também deveria ser um amigo para seu próximo. Foi na sua
angústia que Jó conheceu a verdadeira amizade, pois “ao aflito deve o amigo mostrar compaixão”
(Jó 6.14)
e mudou seu comportamento reconhecendo “eu sou irrisão para os meus amigos” (Jó 12.4).
Jó desabafou sua solidão quando viu que “todos os meus
amigos íntimos me abominam, e até os que eu amava se tornaram contra mim”
(Jó 19.19).
Somente quando esteve completamente só é que passou a buscar a Deus como amigo,
pois “os meus
amigos zombam de mim, mas os meus olhos se desfazem em lágrimas diante de Deus”
(Jó 16.20).
Então pediu a seus companheiros que reconhecessem seu sofrimento dizendo “compadecei-vos de
mim, amigos meus, compadecei-vos de mim” (Jó 19.21).
Quando Jó se concertou com Deus passando a orar e
ouvir a voz de Deus (Jó 38 e 39), confessando-se pecador (Jó 40.3-5)
e ouviu Deus falar com ele de maneira poderosa (Jó 40.6-24 e 41.1-34). Por isso Jó
reconhece que somente agora conhecia Deus como um verdadeiro amigo, porque “na verdade, falei
do que não entendia, coisas maravilhosas demais para mim, coisas que não conhecia...
eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem” (Jó 42.3b e
5). Agora Jó estava disposto a aprender a verdade (Jó 42.4)
reconhecendo-se como pecador (Jó 42.6).
Entretanto chegou a hora de Jó ajudar seus amigos,
porque “tendo o
SENHOR falado estas palavras a Jó, o SENHOR disse também a Elifaz, o temanita:
A minha ira se acendeu contra ti e contra os teus dois amigos; porque não
dissestes de mim o que era reto, como o meu servo Jó” (Jó 42.7).
Então Jó orou por seus amigos ao invés
de fazer como eles e começar a discutir quem estava com razão.
Amigos de verdade são aqueles que oram por você e com
você. Não adianta ficar falando e argumentando. Os amigos de Jó foram sinceros enquanto
ficaram em silêncio e choraram com Jó e também quando ficaram em silêncio (Jó 2.12,13).
Mas verdadeiros amigos oram e colocam tudo diante do maior de todos os Amigos: JESUS!
Procure amigos de Oração!
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MACKINTOSH, C. H. Jó e Seus Amigos. Tradução do espanhol:
Daniela Raffo. PDF publicado em: http://www.monergismo.com/textos/comentarios/jo-seus-amigos_ch-mackintosh.pdf