Tema: ESTUDO BÍBLICO
“examinai as
Escrituras” João 5.39
INTRODUÇÃO: A Bíblia é
autoexplicativa. Um texto explica o outro. Às vezes é preciso reler um mesmo
texto repetidas vezes até descobrir seu significado. Mas o a explicação está
ali, basta procurar. Além disso, o Espírito Santo, que inspirou a escrita (II Pedro 1.20), também releva o
seu significado penetrando no mais profundo de nosso ser (Hebreus 4.12).
Para interpretar a Bíblia corretamente é preciso
muito estudo (João
5.39), para entender (Mateus 24.15) e manusear bem as Escrituras (II Timóteo 2.15). Existem tesouros
precisos nos esperando na Palavra de Deus (Mateus 13.45,46).
Veja também: COMO LER A BÍBLIA?
Como interpretar a Bíblia?
Alguns princípios orientadores para a interpretação
Bíblia são:
1- Conhecimento geral da Bíblia
Procure saber mais sobre o tema de cada livro da
Bíblia, seu autor e quando foi escrito. Estas informações podem ser encontradas
na introdução dos livros em Bíblias de estudo ou em enciclopédias de estudo
bíblico.
Por exemplo:
-Gênesis: A história do começo.
-Êxodo: Saída do Egito par a terra de
Canaã.
-Reis: A história dos reis de Israel.
-Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e
João): Descrição dos ensinamentos, milagres e sobre a vida de Jesus Cristo,
contado pelos evangelistas, cujos autores são os nomes do livros.
-Atos dos Apóstolos: a
história da Igreja Primitiva, de como o evangelho foi divulgado pelos primeiros
cristãos. Escrito por Lucas.
Comece lendo a Bíblia pelas partes que você tem
mais facilidade, como Salmos, Provérbios e os evangelhos. Depois continue lendo
outras passagens à luz do que já estudou. Assim que possível, faça um propósito
de ler a Bíblia completa. Folheie sempre sua Bíblia percebendo a disposição dos
textos para ter mais intimidade com o livro e memorizar sua organização.
Para conhecer mais sobre os livros da Bíblia,
estude o PANORAMA BÍBLICO.
2- Texto e Contexto
Certa vez ouvi que “texto sem contexto é pretexto”.
Não podemos ser desonestos com o texto bíblico, precisamos buscar fundamentação
na Palavra de Deus. A palavra ‘texto’, etimologicamente está ligada à palavra
‘tecido’, com sentido de uma costura de palavras. O intérprete é como um
‘tecelão’ que desfia e tece o texto.
Procure conhecer em que contexto foi escrito, ou
seja, o que estava acontecendo quando o autor escrevia o texto. Basta uma
leitura mais cuidadosa para descobrir estes fatores. Às vezes é preciso
recorrer ás referências citadas no texto ou então reler partes anteriores do
mesmo. O assunto pode ter começado no capítulo anterior e se concluir em
capítulos adiante. Somente lendo todo o contexto, será possível saber toda a
história.
Por exemplo, o texto do Salmo 51, que é
uma oração de arrependimento de Davi, foi escrito no contexto do seu pecado com
Betesseba, descrito em II Samuel 11 e 12. Sabendo disso, se torna
possível compreender melhor o texto do salmo, bem como saber o seu desfecho
histórico e espiritual.
Alguns textos são introduzidos com seu contexto,
como em Isaías 6.1, quando o profeta teve um poderoso encontro com
Deus, resultando no seu chamado profético. O texto deixa claro que tudo
aconteceu “no ano da morte do rei Uzias”, ou seja, em meio a uma
grande crise em toda a nação, Deus levanta Isaías para profetizar.
Um trecho é chamado de PERÍCOPE, que pode ser encontrada
pelas subdivisões apresentadas nos capítulos, mas que deve ser analisada com
cuidado para não dividir o texto incorretamente. A perícope é um trecho
completo, com uma mensagem ou história. Evite dividir uma perícope. O melhor é
fazer a leitura total do trecho.
Um texto do Antigo Testamento está sob o contexto
da Lei, na Velha Aliança (Hebreus 8). Um texto do Novo Testamento está
sob o contexto da Graça, sob a Nova Aliança em Cristo. Saber diferenciar isto,
evita muitas confusões.
3- Linguagem do Texto
Cada texto tem uma linguagem apropriada. Dependendo
do texto, pode-se perceber o sentimento do autor ou o clima que o fato ocorreu.
Então é importante tentar sentir o teor da linguagem utilizada.
Os livros da Bíblia estão agrupados de acordo com o
assunto. Esta disposição foi organizada nas Escrituras para facilitar a
leitura.
No Antigo Testamento, os primeiros cinco livros
formam o Pentateuco, que são os livros da lei. Depois vêm os livros Históricos,
depois os livros Poéticos e então os livros dos Profetas.
No Novo Testamento, os primeiros quatro livros são
os Evangelhos, depois vem o texto Histórico de Atos dos Apóstolos, então uma
série de Cartas do Apóstolo Paulo, seguidas de outras Cartas Pastorais de
outros Apóstolos e por fim o livro de Apocalipse que é um texto de revelação.
Percebe-se uma progressão literária nos textos.
Começando o A.T. com lei, depois história, depois poesia e então profecia.
Também o N.T. começa com a descrição da vida de Jesus nos evangelhos, depois a
história da Igreja, em seguida com orientações pastorais práticas e por fim com
as revelações apocalípticas. A leitura se torna cada vez mais fácil à media que
vamos estudando.
Uma coisa é ler uma lei e outra uma história, uma
poesia ou uma profecia. Por isso, a leitura se torna diferente de acordo com a
linguagem utilizada.
4- Referências Bíblicas
As referências Bíblicas apontam para textos
similares ou que tenham a ver com o assunto. O propósito das referências é
criar ‘links’ entres textos comuns. Podemos encontrar referências nos rodapés
das bíblias de estudo que nos levam a outros textos que falam do mesmo assunto.
Por exemplo, o texto de Isaías 53 se
refere ao sacrifício de Cristo, descrito em Mateus 27. Logo em
seguida vemos o mesmo texto citado no encontro de Felipe e o Eunuco, em Atos
8.32,33. Mais adiante, em Hebreus 9.11-28 o mesmo contexto
é explicado de forma mais abrangente.
Se você ler estes textos separadamente, terá uma
compreensão limitada dos mesmos, mas se fizer uma ligação entre eles,
estudando-os, então poderá entender melhor o seu significado.
A Bíblia tem muitos textos paralelos que dizem a
mesma coisa em livros diferentes, por autores diferentes e consequentemente com
óticas distintas. Isso não desvaloriza, mas enriquece o texto. Um autor pode
citar detalhes que outro autor não descreveu. Deste modo, um texto completa o
outro, formando o contexto bíblico.
5- Palavras Chave
As palavras chave são expressões importantes do
texto. Descobrindo a palavra chave, o texto pode ser dissecado facilmente. O
tema também é mais corretamente orientado pela palavra chave.
Em diversas perícopes, existe um termo que é
enfatizado através da repetição da mesma. Por exemplo, em I Coríntios
13, a palavra amor é o tema de todo o capítulo e em Deuteronômio
28 as expressões bênção e maldição que
indicam o tema da obediência.
Além de encontrar a palavra chave do texto é
preciso saber o seu significado. Outro exemplo está em João 15, onde a
palavra ‘videira’ está em evidência. Neste caso também é necessário
discernir o sentido da expressão e entender que se trata de uma planta que
produz uvas, mas que está representando a pessoa de Jesus.
A Bíblia é um livro escrito para o povo. Os autores
bíblicos, em sua maioria eram pessoas simples e mesmo os mais cultos, sempre
estavam interessados em que o texto fosse compreendido facilmente pelo povo.
Por isso é fácil a compreensão, desde que se aprenda a estudar corretamente.
As palavras chave são muito usadas pelos autores
bíblicos para mostrar com clareza o sentido do texto. O propósito é fazer
lembrar pelo menos uma palavra de todo o texto.
6- Diálogo com o texto
Antes de perguntar para qualquer pessoa, pesquisar
em qualquer livro ou tirar conclusões, deve-se perguntar ao próprio texto para
saber as circunstâncias do texto. Passe o texto por uma prova de INTERPRETAÇÃO
com perguntas básicas a respeito do mesmo.
Para uma boa mensagem é preciso primeiro entender o
texto Bíblico e para isso é necessário fazer uma interpretação do contexto.
Conversar com o texto é uma prática que facilita grandemente sua compreensão.
Perguntas para fazer ao texto:
-O quê? De que assunto
trata o texto ou o que aconteceu.
-Quem? As pessoas que
são faladas no texto. Você pode copiar os nomes delas fazendo uma lista ou
grifar no próprio texto.
-Quando? Se texto mostra
em que momento aconteceu ou que período estava sendo falado.
-Onde? Local onde
aconteceu o fato ou foi escrito o texto.
-Como? Alguns detalhes
de como aconteceu tudo ou o que está sendo dito no texto.
-Por quê? O objetivo da
mensagem ou seu significado prático para a época e para as pessoas que são
faladas no texto e como pode servir para nós hoje.
Nem todos os textos trarão estas respostas
claramente, sendo necessário ler mais profundamente ou pesquisar em livros de
referência. Mas a maioria dos textos bíblicos pode-se encontrar muitas destas
respostas.
Muitas coisas que a Bíblia não traz respostas são
mistérios de Deus (leia Deuteronômio 29.29), mas devemos focar
naquilo que as Escrituras deixam claro para nosso conhecimento. O propósito
destas lacunas de informações é nos fazer mais humildes, reconhecendo a
Grandeza de Deus. Mesmo assim, os intérpretes da lei, no tempo de Jesus eram
pessoas vaidosas e arrogantes por se acharem conhecedores das escrituras (Mateus
7.1-5).
Se gastarmos a vida toda estudando tudo o que foi
revelado na Palavra e mesmo assim não conseguiremos esgotar seu conteúdo tão
profundo (João 21.25).
7- Ferramentas
Deus honra o preparo e o estudo da Bíblia. Por isso
Jesus disse que devemos “examinar as Escrituras” (João 5.39)
e o apóstolo Paulo orientou Timóteo: “maneja bem a Palavra da
verdade” (II Timóteo 2.15). Por isso é importante a pesquisa
constante na Palavra de Deus, que é uma fonte inesgotável de sabedoria.
Aos poucos, você pode formar uma pequena biblioteca
de estudo, para ter acesso a materiais de auxilio como:
Bíblias de Estudo: são bíblias com
comentários e com ênfase no estudo bíblico.
Traduções: são Bíblias de
versões ou linguagens diferentes, por exemplo RA (Revista e Atualizada), RC (Revista
e Corrigida) e NVI (Nova Versão Internacional).
Comentários: são livros
explicativos dos textos bíblicos que auxiliam na compreensão do texto e do
contexto.
Dicionários: tanto com
vocabulários comuns e dicionários especificamente bíblicos.
Concordâncias: ou ‘chaves’
bíblicas são ricos para ajudar na pesquisa, pois são especializados em
referências.
Mapas: podem ser encontrados
em vários dos livros citados acimas, bem como nas Bíblias, mas existem livros
especializados em geografia bíblica.
A importância do estudo acadêmico não exclui a
dedicação espiritual, mas deve enriquecer com conhecimento. Nunca podemos excluir
o caráter espiritual ou misterioso de um texto, que somente o Espírito Santo
pode revelar.
É preciso tomar cuidado com materiais tendenciosos,
ou seja, que tragam uma interpretação pronta. Embora pareça mais fácil, isso é
perigoso. O correto é usar materiais de pesquisa que sejam imparciais e fiéis
ao texto, deixando que o próprio leitor tire as conclusões.
Você pode entender a Bíblia!
CONCLUSÃO
Através da interpretação, podemos ir ao contexto do
texto e voltar para o nosso próprio contexto, aplicando a mensagem à nossa
realidade.
Alguns erros de interpretação que devem ser
evitados:
-Não mude o sentido do texto, tentando
‘torcer’ para ter o significado que deseja. Aceite o que o autor está dizendo.
-Não queira dar respostas para coisas
que não estão sendo ditas no texto, mas baseie-se apenas no que está escrito.
-Nunca tenha pressa. Um
estudo minucioso demanda tempo e esforço. Muitas heresias são fruto de preguiça
e despreparo.
A hermenêutica é a arte da interpretação. Como
qualquer exercício, o estudo bíblico requer treino e esforço. Como uma
cozinheira que sabe dosar cada ingrediente corretamente, mas para isso foi
preciso muita dedicação. Assim deve ser o estudo constante da Bíblia.
Bom estudo!
______________________________
Citações Bíblicas: Bíblia Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.
E-book: Interpretação Bíblica
Como Ler, Estudar e Compreender a BÍBLIA? Aprenda a ler, estudar, compreender a Bíblia de forma simples e prática. A Bíblia é ou apenas contém a Palavra de Deus? Como um livro fechado, para mentes e corações fechados, a Bíblia apenas contém a Palavra de Deus. Já para quem se abre diante das letras nela impressas com mente e coração dispostos a compreender, a Bíblia é a voz de Deus falando direta e profundamente.