Tema: ESTUDO BÍBLICO
“Visto
como na sabedoria de Deus o mundo pela sua sabedoria não conheceu a Deus,
aprouve a Deus salvar pela loucura da
pregação os que creem”. I Coríntios 1.21
Introdução: O filme evangélico 'Deus não está
morto', tem despertado no povo cristão o interesse em refletir sobre a questão
da fé e ciência, trazendo a experiência de um jovem universitário em debate com
seu professor ateu. A mensagem deste filme fez com que o título do mesmo
estivesse entre as frases mais bradadas nos púlpitos e compartilhadas nas redes
sociais.
Deus
está acima de tudo. Da ciência, do mundo, de todos nós e até mesmo acima da
própria fé como seu Autor e consumador (Hebreus 12.2). Tudo o que é descoberto pela
ciência provém da permissão Divina “em quem estão escondidos todos os tesouros da
sabedoria e da ciência” (Colossenses 2.3), que concedeu dons e capacidade
ao ser humano de criar e conhecer à semelhança de seu Criador (Gênesis 1.27).
Sua fé é racional?
Vamos
refletir sobre as diferenças entre fé e razão:
1- Os mistérios de Deus
I Coríntios
1.25 “Porque a loucura de Deus é mais sábia que os homens; e a fraqueza de Deus é mais forte
que os homens”.
Os
mistérios de Deus são tão profundos que a ciência não consegue alcançar (Efésios 3.9).
Até mesmo a teologia não pode conhecer os segredos Divinos, a não ser pela
revelação dada por Deus (Efésios 1.9). Desde que a humanidade pecou está
em busca do “conhecimento
do bem e do mal” (Gênesis 2.17), contudo precisamos reconhecer que
existem mistérios que não foram revelados (Deuteronômio 29.29) e por isso, não nos compete
conhecer (Atos
1.7), a não ser por um propósito e permissão do próprio Deus (Daniel 2.47).
Isso acontece talvez porque não estejamos preparados (João 13.7 e 16.12), então podemos
nos dedicar mais em conhecer o que foi revelado, além de procurar o dom supremo
do amor que é maior que a ciência e todo conhecimento (I Coríntios 13.2).
Nada,
nem mesmo a ciência pode desmentir a Palavra de Deus, que é a própria verdade (João 17.17),
revelada em Jesus Cristo, a Palavra encarnada (João 1.1 e 14). A ciência pode ser
útil à razão para confirmar o conhecimento da verdade (I Timóteo 3.9). Os posicionamentos
científicos oscilaram durante a história, dizendo ora uma coisa e depois com o
tempo, a própria ciência desfez seus próprios conceitos antes estabelecidos. Enquanto
isso, a Palavra de Deus permanece a mesma eternamente (Isaías 40.8).
O
grande desafio para nós cristãos hoje não é desmascarar a ciência, nem mesmo
usá-la para comprovar nossa fé. Devemos acima de tudo manifestar o amor, pois “a fé que atua pelo
amor” (Gálatas 5.6), o amor é a maior força que temos para demonstrar
nossa fé. Portanto não conseguiremos provar nada apenas com debates e
discussões acaloradas. Precisamos manter nossa fé através do conhecimento da
verdade e viver o que cremos pelos atos do amor, pois somos um povo de “coração
aquecido e mente esclarecida” (John Wesley).
Os mistérios de Deus são
entendidos pela fé!
2- RACIONALISMO
I Coríntios 2.14 “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus,
porque para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente”.
Diante
dos mistérios de Deus, muitas pessoas optam para a razão em busca de respostas
técnicas e exatas. Mas isso é fruto de sua decepção ao não encontrar as
respostas do jeito que gostaria. A lógica de Deus se baseia na fé através do
seu poder sobrenatural.
O
conhecimento pode gerar apenas racionalismo morto. Mas a fé produz frutos
vivos. Como ensinou João Wesley1, a razão guiada pelo Espírito Santo (Romanos 9.1),
pode ser muito útil, porque “a ciência incha, mas o amor edifica” (I Coríntios 8.1).
Muitas pessoas usam da razão e argumentos científicos para basear sua
incredulidade. Isso gera uma vida vazia e triste, sem sentido, sem a Graça.
Deus é a essência da vida e somente através de Cristo podemos ter vida
abundante (João 10.10).
A
questão do conhecimento de si mesmo abriga o motivo de tanta descrença no mundo
moderno. Quanto mais as pessoas se tornam superficiais, materialistas, apegadas
a coisas ou sentimentos passageiros, menos conseguem conhecer a si mesmos. Daí
surge tanta crise e problemas emocionais. Mas o que isso tem a ver com a fé e a
ciência? Tem relação com a fé porque somente crendo em Deus, a pessoa consegue
superar e vencer barreiras tanto externas como internas, pois a sua verdadeira
imagem é restaurada à semelhança do seu Criador (Gênesis 5.1). A autoimagem também
tem a ver com a ciência porque muitas pessoas perdem a visão de si próprias
quando pensam serem apenas animais racionais, dotados de capacidades
desenvolvidas, o que seria um reducionismo de sua realidade como filhos de Deus
e não apenas criaturas. Pensando assim, as pessoas ficam fadadas ao acaso e sem
expectativa.
A
ciência não consegue restaurar o ser humano reconciliando-o com o próximo e o
Divino. Somente pela fé em Jesus Cristo é possível se tornar filho/a de Deus (João 1.12),
passando a ser nova criatura. Uma pessoa crente, ou que tem fé,
consequentemente tem mais esperança e outras virtudes que seguem sua crença. O
verdadeiro motivo da resistência à fé é que se existe um Deus, logo terão que reconhecerem-se
pecadores, encarar suas mazelas e erros, além de precisar render-se a este Deus
prestando-lhe adoração.
Para
quem vive sob a tutela da ciência, voltar à religião seria estar em
dependência. Desde que a humanidade provou do conhecimento do bem e do mal,
passou a se esconder de seu Criador, buscando esconderijos e desculpas. Tudo
começou quando uma serpente duvidou da Palavra de Deus com explicações do
conhecimento. Podemos comparar a ciência com as folhas de figueira que o
primeiro casal descrito na Bíblia usou para encobrir sua nudez e a pele de
cordeiro com a religião (Gênesis 3.1 e 21). A ciência é uma tentativa humana
de resolver o problema da humanidade. Já a fé é a solução de Deus, totalmente
eficaz para todo que crê. Mesmo assim, muitos preferem deixar o paraíso para
viver em meio à dor, suor e espinhos.
Não seja racional, mas
creia!
3- FÉ INTELIGENTE
I Coríntios 1.18 “Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deu”.
Quando
a fé é unida ao conhecimento para o ensino e preparação na Palavra, a razão se
torna um instrumento a favor da fé. Grandes homens de Deus como o apóstolo
Paulo foram usados por Deus através de sua cultura para influenciar milhares de
pessoas.
O
serviço que a razão pode prestar à fé é o estudo e consequente descoberta, de
forma que ajudem na compreensão do sobrenatural, contudo sempre haverá limites
à ciência diante do infinito poder da fé. Já a colaboração da fé para a ciência
é prover um mistério após outro a ser estudado e trazer conforto diante de
fatos inexplicáveis.
A
forma que a ciência encontra para seus estudos é a investigação. Entretanto a
fé se manifesta pela revelação que Deus dá ao ser humano, por sua Palavra nas
Escrituras, a Bíblia e por Jesus Cristo seu Filho que se revelou ao mundo de
forma plena (Hebreus
1.1-3).
O
grande avivalista John Wesley ensinou um método de interpretação bíblica conhecido
como quadrilátero2, tendo a Bíblia ao centro e nas quatro
pontas a razão, a experiência, a criação e a tradição como ferramentas de
interpretação. Assim aprendemos a estudar a Bíblia como Palavra de Deus que
criou todas as coisas, mas refletir de forma racional em busca de conhecimento,
buscar a opinião dos Pais da Igreja Primitiva, conduzindo à experiência
prática. Este ponto de vista bíblico consegue conciliar ciência e fé superando
os conflitos entre ambas.
Outra
questão interessante seria pensar se a ciência pode conduzir à fé e vice-versa
ou se a via de acesso entre as duas está em direções opostas. A ciência pode
conduzir à fé somente quando após contemplar as maravilhas da natureza,
deparando-se com o infinito e inexplicável, percebe-se a grandiosidade de Deus.
A fé pode indicar a ciência quando revela o verdadeiro sentido da vida. Deste
modo, a pessoa que tem fé se envereda pelos caminhos da ciência alimentando
cada descoberta com um propósito útil para a humanidade. A fé alimenta a razão,
mas a razão não satisfaz a fé.
De
qualquer forma a fé prevalece de forma suprema sobre a ciência, pois somente
pela razão não é possível encontrar Deus. Na verdade nós é que fomos encontrados
por Deus, que nos enviou seu Filho Jesus Cristo (João 3.16). A fé traz luz à razão,
porque quando você crê em algo, logo se põe a pensar a respeito. Já quando não
se acredita, todas as possibilidades são desconsideradas. Portanto até mesmo os
cientistas e racionalistas exercem uma fé naquilo que procuram, pois se não
acreditassem, nem mesmo se dedicariam a pesquisas tão minuciosas. Só podemos
procurar algo que cremos existir, então o exercício da razão tem como objetivo
a fé.
Para
quem já conhece ao Senhor, torna-se desnecessário provar a existência de Deus (Romanos 1.20).
Sabemos que Deus é muito maior que a própria existência de todas as coisas. O
universo não pode ser fruto do nada, porque o nada não pode gerar nada. Somente
uma força maior que o universo seria capaz de criar tudo. O caos seria incapaz
de gerar a organização do universo que age de forma sincronizada. A ordem do
universo mostra a glória de Deus (Salmo 19.1).
Uma
forma simples de ilustrar a fé na criação, por exemplo, é pensar na obra de um
construtor. Antes de construir, um projeto é elaborado, pensado e calculado e
somente depois executado. O inverso, ou seja, pensar e desenhar o projeto
depois da obra já pronta seria no mínimo risco de ser mal sucedido durante e
desonesto depois, visto que a planta serviu apenas para constatar o que foi
feito. Do mesmo modo a fé vem antes da razão. Primeiro sonhamos, visualizamos e
cremos para depois realizar. Tudo que é criado primeiro é invisível e somente
então se torna realidade (Hebreus 11.6). Foi assim que Deus criou tudo a
partir do nada apenas com a sua palavra (Gênesis 1.1-25).
Alimente sua fé com a
Palavra de Deus!
Creia no sobrenatural!
CONCLUSÃO
I Coríntios 3.19 “Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele apanha os sábios na sua própria
astúcia”.
Durante
muito tempo os teólogos combateram os cientistas sem perceber que lutavam
contra pessoas amadas por Deus, que ainda não tiveram experiência com o poder
da fé. Ao mesmo tempo, os cientistas se empenharam em desmistificar a fé,
desconstruir a religião e como diz John C. Lennox, quiseram “enterrar Deus”
tendo cada conquista científica como “um prego no caixão de Deus”3,
sem saber que lutavam com alguém muito maior que eles.
Podemos
perceber um processo na relação entre ciência e fé. Quem pensa que a luta entre
fé e ciência foi iniciada por provocações dos cientistas está enganado. Na
idade média, a Igreja determinava os princípios de sua fé, sem permitir sequer
questionamentos ao ponto de condenar milhares de pessoas na inquisição. Descobertas
como as de Galileu Galilei ameaçavam os dogmas da igreja. Durante este tempo a
ciência foi reprimida e muitas vezes se manteve tímida ou foi sufocada por
forte repressão.
Com
advento do iluminismo, os estudos científicos foram libertados e grandes
pensadores se levantaram de forma ascendente até os dias atuais. Rejeitados
pela religião, estudiosos como Charles Darwin, além de tantos outros, se
opuseram aos conceitos religiosos estabelecidos e enveredaram numa jornada em
busca de provar a superioridade da ciência em relação à fé. Nos tempos modernos
se destacam Stephen Hawking, Cameron Diaz e atualmente Richard Dawkins, que
chamou a fé, bem como o próprio Deus de ‘delírio’, considerando a religião como
algo insano.
Em
resposta a este movimento científico, vários teólogos e pensadores cristãos
reagiram energicamente, principalmente através do fundamentalismo, caracterizado
pelo biblicismo literal. Neste sentido, dois modos de agir se destacaram entre
aqueles que rejeitaram os ensinos científicos como contrários a sua fé e
aqueles que buscaram na ciência as provas para a fé, com objetivo de tentar
derrubar a ciência com seus próprios argumentos.
Com
o liberalismo teológico, várias outras correntes de estudo avançam na corrida
pela verdade. Alguns teólogos se aliaram à ciência aceitando seus conceitos e
tentando manter a fé paralelamente. Contudo, isso gerou um ceticismo quanto à
suficiência das Escrituras, que posteriormente não foi bem visto. Depois te
tantos debates entre posicionamentos radicais, surge um ponto de vista mais
equilibrado como o do biblista Von Rad4, propondo um estudo a partir do binômio
Bíblia e História, onde a Palavra de Deus é estudada por si mesma com auxílio
da história e outras disciplinas que auxiliem na compreensão das Escrituras com
objetivo de fortalecer a fé.
Em
meio a estas batalhas de cosmovisão são descobertos os rolos de manuscritos do
mar morto com inúmeros documentos e relatos referentes à Bíblia, bem como
muitas outras descobertas arqueológicas confirmando a autoridade das
Escrituras. A partir de então, surgem cientistas como Werner Keller, que
escreveu o clássico E a Bíblia tinha razão, usando argumentos científicos para
confirmar a história bíblica. Com o tempo, vários outros cientistas se renderam
diante da religião reconhecendo os limites da ciência diante do infinito da fé.
Estudiosos
como Isaac Newton, Louis Pasteur, Ruy Barbosa, o próprio Albert Einsten,
considerado uma das mentes mais brilhantes da humanidade reconheceram que Deus
existe. O cientista Michael Keller ganhou prêmio Nobel de ciência ao ‘provar’ a
existência de Deus5. Deste modo, cresce a lista de cientistas que,
como Luiz Pianowski, acreditam que sua maior contribuição para a humanidade é
ajudar na compreensão do sobrenatural levando a uma fé em Deus.
É
melhor crer que duvidar apenas!
______________________________
Citações Bíblicas: Bíblia Revista e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.
1 RUNYON,
Theodore. A Nova Criação: a teologia de
João Wesley hoje. São Bernardo do Campo-SP: Editeo, 2002. Páginas 25-27.
2 KLAIBER,
Walter & MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus. São Paulo:
Editeo/Cedro, 1999. Página 59-61.
3 LENNOX, John C. Por que a Ciência não consegue enterrar Deus. Mundo
Cristão: 2011. Páginas 19, 20.
4 SANTOS, Suely Xavier
dos. “Bíblia e Cotidiano”. Caminhando (online), Brasil, 16, 2011. p. 51-58.
5 http://www.freewebs.com/kienitz/declara.htm