Mulheres na Igreja Primitiva

Tema: MULHER

rosto de mulher com burca

"Todos estes perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, com Maria, mãe de Jesus, e com os irmãos dele" Atos 1.14

Introdução: Desde os primeiros tempos as mulheres se destacam n a Igreja e se entregam ao serviço cristão através de uma vida dedicada à obra de Deus. Enfileiraram a galeria dos Heróis da fé (Hebreus 11.35-40), como verdadeiras heroínas que lutaram pelo evangelho. Suas histórias não podem jamais ser esquecidas para inspirar outras mulheres lutadoras.
As mulheres foram responsáveis diretas pelo crescimento na Igreja Primitiva. Em Roma existia quinze mulheres para cada oito homens, mostrando que numericamente prevaleciam no contexto da Igreja.1

Quem foram as mulheres da Igreja Primitiva?

Algumas mulheres da Igreja no Novo Testamento:


Dorcas: mulher caridosa que ajudava muitas pessoas necessitadas em Jope e por isso era muito querida pelo povo. Foi ressuscitada através da oração de Pedro (Atos 9.36-42).
Maria: mãe de João Marcos que tinha uma igreja reunindo em sua casa (Atos 12.2).
Lídia: fundadora da Igreja em Filipos a partir de sua casa, de onde o evangelho entrou na Europa (Atos 16.14,15 e 40);
Dâmaris: se converteu ouvindo o apóstolo Paulo no areópago em Atenas (Atos 17.34).
Priscila: esposa de Áquila, fazedora de tendas com seu marido e companheiros de viagens missionárias com Paulo (Atos 18.1-3, 18-21; Romanos 16.3; I Coríntios 16.19). Foram discipuladores de Apolo (Atos 18.18,26).
Febe: mulher enviada para servir a Igreja em Cencreia, considerada diaconisa (Romanos 16.1). Foi uma mensageira que levou a carta de Paulo aos Romanos.
Maria: uma cristã em Roma elogiada pelo serviço prestado aos apóstolos (Romanos 16.6).
Júnias: parente do apóstolo Paulo e esposa Andrônico. O casal se converteu antes de Paulo e provavelmente foi referência discipuladora para ele. Os dois foram citados por Paulo como “apóstolos” (Romanos 16.7).
Trifena e Trifosa: provavelmente duas irmãs que trabalhavam na igreja em Roma (Romanos 16.12).
Pérside: mulher trabalhadora entre os cristãos romanos, considerada amiga de Paulo (Romanos 16.12).
Júlia: cristã da família de Filólogo, possivelmente irmã ou esposa (Romanos 16.15).
Irmã de Nereu: embora não cite o nome, o texto declara que juntos dirigiam uma Igreja doméstica em Roma (Romanos 16.15).
Evódia e Síntique: duas mulheres da Igreja em Filipos, que se desentenderam e por isso foram exortadas por Paulo. Provavelmente seriam líderes colaboradoras dos filipenses (Filipenses 4.2,3).
Ninfa: mulher que hospedava a igreja dos colossenses em sua casa (Colossenses 4.15).
Lóide e Eunice: avó e mãe do jovem Timóteo. Eram mulheres judias que provavelmente teriam se casado com homens gregos. Ensinaram Timóteo no evangelho desde criança (II Timóteo 1.5; 3.15; Atos 16.1).
Áfia: possivelmente a esposa de Filemom. Mulher hospitaleira, que recebeu cristãos em sua casa. O destaque de sua citação demonstra que era uma mulher influente e colaboradora do ministério de Paulo (Filemom 2).
Cláudia: Possível companheira de prisão do apóstolo (II Timóteo 4.21).
Estas dezenove mulheres citadas na igreja do Novo Testamento revelam que a presença feminina era marcante exercendo liderança no meio dos apóstolos. Mas elas não eram apenas colaboradoras dos apóstolos, também exerciam funções de destaque.

Algumas funções exercidas por mulheres na igreja apostólica:

1) Apóstolas

Embora a palavra apóstolo não era usada no feminino, como também a palavra discípulo e outras que eram acompanhadas do termo mulher, como “mulher apóstolo” e “discípulo mulher” para designar gênero2. O sentido neotestamentário da palavra apóstolo é o de enviado ou missionário. Sendo assim, mulheres enviadas em missão poderiam ser consideradas apóstolas, mesmo que não recebessem diretamente este título. Em Romanos 16.7, Júnias e seu esposo Andrônico são chamados de “notáveis entre os apóstolos” incluindo aqui a figura feminina.

2) Profetizas

Muitas mulheres tinham o dom de profetizar, cumprindo a profecia de Joel em que o Espírito Santo é derramado sobre “filhos e filhas... servos e servas” (Atos 2.17,18). No dia de pentecostes, estavam reunidos cerca de cento e vinte discípulos e havia muitas mulheres entre eles (Atos 1.14), quando “todos” receberam o Espírito Santo (Atos 2.1-4). Podemos definir a profecia incluindo o ato de anunciar a Palavra de Deus, que pode ser entendido também como pregação (I Coríntios 14.3). No texto de I Coríntios 11.5, onde há orientações sobre “toda mulher que ora ou profetiza”, embora Paulo coloque restrições e exija o uso do véu pelas mulheres como ato de submissão aos homens, mesmo assim o texto revela que as mulheres tinham liberdade de profetizar na Igreja3. As quatro filhas de Filipe, o evangelista eram profetizas (Atos 21.9).

3) Diaconisas

Diaconia é traduzido como serviço ou ministério. Quando Paulo orienta sobre o perfil do diaconato em I Timóteo 3.11, se dirige também às “mulheres do mesmo modo”, colocando-as em igualdade com os demais diáconos. O texto aqui não se refere às mulheres em geral na Igreja, ou às esposas dos diáconos, mas sim a mulheres que exerciam o efetivamente o diaconato4. Muitas mulheres trabalhavam na Igreja e tinham seus nomes associados à Palavra diakonia, como no caso de Febe em Romanos 16.1 citando “Febe, que está servindo à igreja de Cencreia”, onde a palavra servindo é diákonon [dia/konon]. Vários Pais da Igreja citaram o exercício do ministério das diaconisas na Igreja Primitiva.

4) Presbíteras

Os presbíteros eram anciãos da Igreja que atuavam no ministério pastoral. Em I Timóteo 5.2, onde se traduz “mulheres mais velhas” ou anciãs, o texto original é presbuteros (presbu/terov), no plural e feminino, mostrando que havia várias presbíteras na Igreja5. O mesmo acontece em Tito 2.3 quando cita as “mulheres idosas” como modelo de instrução para outras mulheres mais jovens (Tito 2.3-5). Isso demonstra que as mulheres mais experientes colaboravam no ministério pastoral da igreja.

As mulheres são usadas por Deus!

CONCLUSÃO

As constantes citações de mulheres no Novo Testamento revelam que o cristianismo primitivo não era um movimento patriarcal, mas familiar e inclusivo. Segundo Werner Georg Kümmel6, as mulheres citadas nas cartas paulinas eram coadjutoras de Paulo, que embora demonstre em alguns momentos não aceitar o ministério feminino, reconhece o serviço de várias mulheres na igreja. Kümmel chega a desconfiar que as traduções do grego neotestamentário tenham sido tendenciosas preferindo expressões masculinas. Mesmo assim não conseguiram evitar a evidência da influência feminina na igreja.
Dentre os ministérios no Corpo de Cristo não há apenas homens, pois isso negaria o princípio da diversidade (I Coríntios 12.12-27). Não existe mais diferença entre homem e mulher na obra de Deus (Gálatas 3.28), porque em Cristo somos um.

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RODRIGUES, W. N. Mulheres na Igreja Primitiva. Voz Missionária, São Bernardo do Campo/SP, p. 28-,29. Ano 87, Março/Abril 2016.

1RODRIGUES, Welfany Nolasco. A Evangelização na Igreja Primitiva. Belo Horizonte: Filhos da Graça, 2015. Página 34.

2 ARAÚJO, Carlos Alberto R. de. A Igreja dos Apóstolos: conceito e forma das lideranças na Igreja Primitiva. Rio de Janeiro: CPAD, 2012. Página 48.

3 IDEM, páginas 212, 213.

4IDEM, páginas 237-240.

5 VINE, W.E., Merril F. Unger e William White Jr. Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2006 – 7ª edição. Página 808.

6 KÜMMEL, Werner Georg. Introdução ao Novo Testamento. São Paulo: Paulus, 1982.

livro igreja primitiva

Uma pesquisa histórica que analisa a prática da evangelização cristã até o final do segundo século, buscando descobrir elementos da organização da Igreja, dos modelos de discipulado e de capacitação dos novos convertidos e das lideranças cristãs. A questão de fundo é como se dava a evangelização e o crescimento da igreja a partir dos primeiros cristãos com reflexões para a Igreja contemporânea.
88 páginas 14x21
Rev. Welfany Nolasco Rodrigues

Pastor Metodista, professor e escritor. 45 anos. Casado com Ássima, pai de Heitor e Hadassa. Natural de Muriaé MG. Bacharel em Teologia pela UMESP.

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