Tema: ESTUDO BÍBLICO
João 5.39 “Vocês examinam as Escrituras, porque julgam ter
nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.”
Introdução: Como entender a Bíblia? Existe
um método seguro para interpretação? João Wesley ensinava as Escrituras de
forma prática e inovadora para seu tempo visando a interpretação bíblica tanto
por leigos e teólogos. A hermenêutica wesleyana é simples e a fórmula atribuída
a João Wesley inspira estudiosos até os dias atuais. A preocupação de João Wesley seria que a interpretação não
pode ocorrer como fruto de simples intuição e sim ter um método ou parâmetros
que a indicassem por onde começar e aonde chegar.
O posicionamento equilibrado de João Wesley impulsionou um grande avivamento, o que definiu também o método wesleyano para hermenêutica bíblica(KLAIBER & MARQUARDT, 1999). Na verdade, foi uma criação de Albert Outler, baseado na teologia de John Wesley, tendo a Bíblia, a Experiência, a Razão e a Tradição. Posterormente, teólogos brasileiros entenderam que a Criação poderia fazer parte, como fonte da interpretação, tendo a Bíblia ao centro (SOUZA, 2013). Conhecido como quadrilátero, tendo a Bíblia ao centro e nas quatro pontas a Razão, a Experiência, a Criação e a Tradição como instrumentos de interpretação Bíblica. Confira:
As fontes da hermenêutica Wesleyana podem ser resumidas:
Criação: estudar o texto a partir do projeto Criador de
Deus;
Razão: aprofundar no conhecimento do texto e refletir
sobre o mesmo;
Tradição: pesquisar os pensamentos dos Pais da Igreja
sobre o assunto;
Experiência: trazer o que o texto diz para a vida
prática.
O que é o Quadrilátero Wesleyano?
Conheça o método para interpretação bíblica atribuído a
John Wesley, por sua praticidade e forma de fazer teologia com o povo e para o
povo:
1) Os quatro pontos do Quadrilátero: Experiência, Tradição, Criação e Razão
Ao ler um texto pode-se entender o mesmo a partir:
a) A Experiência
Qual a sua experiência com o texto bíblico? A experiência é
fundamental na vida cristã, chamado por Wesley de ‘Testemunho do Espírito’ (Romanos 1.16). O mesmo
Espírito Santo, que inspirou as Escrituras (II Pedro 1.20,21), também concede ao
cristão a revelação do sentido da mensagem Bíblica (João 14.26).
b) A Razão
Como você compreende o texto bíblico? Um estudo aprofundado
do texto bíblico exige esforço mental e disposição para aprender (Romanos 12.1,2). A razão
significa a busca constante de conhecimento a respeito das Escrituras, com
reflexão madura. A compreensão bíblica precisa ser inteligível até mesmo para
uma criança.
c) A Tradição
Como a Igreja interpreta o texto bíblico? A história da
Igreja, principalmente no cristianismo primitivo, revela como o texto bíblico foi
interpretado através dos tempos (Hebreus 11.2). Conhecer sobre a Igreja Primitiva é uma
forma de se aproximar mais da interpretação dos primeiros leitores das
Escrituras.
d) A Criação
Como o texto bíblico revela o plano Criador de Deus? A
reflexão a respeito da Criação procura entender qual foi o projeto de Deus para
a humanidade, buscando retornar ao plano que Deus preparou para o ser humano (Hebreus 11.3).
A proposta de Wesley é conduzir a um estudo da Bíblia como
Palavra do Criador de todas as coisas, refletindo através da razão em busca de
conhecimento, também pesquisar as fontes mais antigas dos Pais da Igreja
Primitiva e então conduzindo à experiência prática da vida cristã. Este ponto
de vista bíblico consegue conciliar ciência e fé superando os conflitos entre
ambas.
2) Aplicação do Quadrilátero Wesleyano
Vejamos dois exemplos de temas à luz do quadrilátero
Wesleyano:
a) Exemplo: tema Vícios
I Coríntios 6.12 “Todas as coisas me são lícitas”, mas
nem todas convêm. “Todas as coisas me são lícitas”, mas eu não me deixarei
dominar por nenhuma delas.”
EXPERIÊNCIA: as pessoas têm sofrido por
causa dos vícios perdendo saúde, trabalho, dinheiro e até a vida (João 10.10).
RAZÃO: o exame do bafômetro comprova
que apenas 0,05 mg de álcool, equivalente a uma pequena taça de vinho, já é o
suficiente para alterar a lucidez (Oseias 4.11).
TRADIÇÃO: nos primórdios do
cristianismo a embriagues era combatida, embora tenha sido tolerada pela igreja
em alguns lugares (Efésios 5.18).
CRIAÇÃO: Deus criou o ser humano para
dominar e não ser dominado por “ervas” ou qualquer coisa (Gênesis 1.26-28).
Podemos entender que os vícios trazem grandes prejuízos ao
ser humano e não são da vontade de Deus para seus filhos a quem tanto ama.
b) Exemplo: tema Santificação
Hebreus 12.14 “Procurem viver em paz com todos
e busquem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.”
EXPERIÊNCIA: vivemos num mundo de pecado e
as pessoas nem sempre acreditam que seja possível buscar a santidade (I Pedro 1.15,16).
RAZÃO: se olharmos para nossa
condição humana, percebemos que somos pecadores como a Bíblia afirma (Romanos 3.23).
TRADIÇÃO: a igreja cristã acredita que
todos os salvos são chamados de “santos” nas Escrituras (I Tessalonicenses 3.13).
CRIAÇÃO: quando nos convertemos,
buscamos ser uma “nova criatura” (II Coríntios 5.17), para voltarmos a ser
“imagem e
semelhança” de Deus (Gênesis 1.27).
A santificação é alvo do projeto Divino para a humanidade
salvando do pecado e libertando para uma nova vida em Cristo.
Conclusão
II Timóteo 3.16 “Toda a Escritura é inspirada por
Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a
educação na justiça.”
“Homo unis libri” - João Wesley usava esta
frase em latim para falar de si mesmo como um ‘homem de um livro só’ (SOUZA, 1993.
Páginas 13-20). As fontes de interpretação indicadas por João Wesley são muito úteis
para os dias atuais e deveriam ser melhor estudadas pelos cristãos em geral.
Desprezar tamanha riqueza teológica seria como abandonar um tesourou
inestimável.
Exercitando o Quadrilátero:
• EXPERIÊNCIA: Relacionamento com Deus através de vida
devocional de oração e leitura Bíblica.
• RAZÃO: Reflexão e pesquisa profunda sobre o
significado do texto.
• TRADIÇÃO: Estudo sobre como a Igreja interpreta o texto
através dos tempos.
• CRIAÇÃO: O propósito criador de Deus e seu projeto de
restauração.
Como aproveitar a leitura da Bíblia? Em sua posição
metódica e sistemática, João Wesley recomendava o seguinte procedimento para a
leitura da Bíblia (Em Marcha, 1999. Página 45):
1. Separar um tempo determinado durante o dia ou durante a
noite.
2. Ler, neste tempo separado, um capítulo de um livro do
Antigo Testamento e um do Novo.
3. Fazer a leitura com humildade, desejando conhecer a
vontade de Deus, mas também com o objetivo de praticá-la.
4. Prestar atenção às doutrinas abordadas: pecado,
justificação pela fé, novo nascimento, santificação interior e exterior.
5. Orar antes e ao término da leitura, buscando a presença
do Espírito Santo.
6. Fazer pausas durante a leitura buscando um exame
interior e prática de vida em confronto com a verdade expressa naquela leitura.
__________________
Bibliografia:
WESLEY, John.
Notas explicativas de John Wesley sobre o Novo Testamento: Evangelhos e Atos –
Tomo I. Belo Horizonte: Filhos da Graça / Noah Edições, 2015. 384 p.
José Ildo Swartele
de Mello. O Quadrilátero Wesleyano. Disponível em:
http://escatologiacrista.blogspot.com.br/2016/05/o-quadrilatero-wesleyano.html
SOUZA, José
Carlos. Um modo de fazer teologia equilibrado, dinâmico e vital. In:
Caminhando: Revista Teológica da Igreja Metodista. Ano IV, nº6. São Bernardo do
Campo: Editeo, 1993. Páginas 13-20.
KLAIBER, Walter
& MARQUARDT, Manfred. Viver a Graça de Deus: um Compêndio de Teologia
Metodista. São Bernardo do Campo/São Paulo: Editeo/Cedro, 1999, Páginas 59-61 e
193- 203.
Helmut Renders.
Estudos de Gênero e método teológico: corporeidade e androcentrismo como temas
permanentes do quadrilátero wesleyano brasileiro - DOI: http://dx.doi.org/10.15603/2176-1078/er.v24n39p91-106
/ Helmut Renders // Estudos de Religião. - 2011. Vol. 24. - № 39. - pp. 91-106.
Revista Em
Marcha. Metodismo “Origem e Desenvolvimento”. São Paulo: Editora Cedro /
Imprensa Metodista: 1999, 2º quadrimestre. Página 45.