Tema: ESTUDO BÍBLICO
2 Coríntios 13.13 “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.”
Introdução: A doutrina da Trindade
é um dos primeiros e mais importantes pontos da fé cristã e por isso precisamos
compreender biblicamente o seu significado. Uma das primeiras características
das heresias e seitas é que não
acreditam ou deturpam o significado da Trindade. Por isso é indispensável
estudar e ensinar sobre esta base da fé através da Palavra de Deus.
Uma boa ilustração para tentar entender a Trindade é a
fórmula da água H2o, que embora possa estar no estado líquido, sólido (gelo) ou
gasoso (vapor), sempre será a mesma água.
Acima de tudo, para entender o mistério da Trindade é
preciso ter fé, porque as explicações serão insuficientes se a pessoa não
acreditar no Deus verdadeiro.
Como entender a Trindade?
Vamos
refletir na Palavra de Deus sobre o significado da Trindade:
1- Origem da Trindade
A palavra Trindade foi formada com o tempo pelos primeiros
cristãos para definir a fé em um Deus que se manifesta em três pessoas: o Pai,
o Filho e o Espírito Santo. O termo Trindade é uma definição teológica, que tem
sua fundamentação na Bíblia, embora não esteja escrita literalmente nas páginas
das Escrituras Sagrada.
Durante os três primeiros séculos do cristianismo, os
primeiros teólogos chamados de Pais da Igreja discutiram os temas importantes
da doutrina cristã, como o conceito da Trindade. Atribui-se a Tertuliano, que
viveu entre 160 a 225 d.C. a primeira citação escrita da palavra Trindade. No
Concílio de Nicéia em 325 d.C. foi concluída a formatação das doutrinas essenciais
do cristianismo, dentre elas a Trindade, como uma das definições mais
essenciais da fé cristã.
2- Bases Bíblicas para Trindade
A Trindade pode ser comprovada biblicamente com várias
citações:
a) A Trindade no Antigo Testamento
Gênesis 1.26ª “Também
disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança...”
Na Criação do homem, Deus se manifesta referindo-se a si
mesmo no plural. O primeiro nome ou palavra para designar Deus na Bíblia é
Elohim (אֱלֹהִ֑ים) que é o plural de El (אֱל)*, que significa Deus, mas que também pode ser
traduzido por Deuses, ou seja, que não está sozinho. O mesmo plural é usado
quando Deus decide impedir a construção da Torre de Babel (Gênesis 11.7). A semelhança do
homem com Deus também pode ser comprovada porque somos uma trindade com “espírito, alma e
corpo” (I Tessalonicenses 5.23).
Gênesis 18.1,2 “Apareceu o
Senhor a Abraão nos carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada
da tenda, no maior calor do dia. Levantou ele os olhos, olhou, e eis três
homens de pé em frente dele. Vendo-os, correu da porta da tenda ao seu
encontro, prostrou-se em terra”.
O encontro de Abraão com Deus se manifesta claramente em
três pessoas e eles comem três pães (Gênesis 18.6-8), então Deus anuncia o nascimento
de Isaque (Gênesis
18.9-15), destruição de
Sodoma e Gomorra (Gênesis 18.16-21) e Abraão intercede ao Senhor pela salvação
do povo (Gênesis
18.22-33). Diferentemente quando Ló foi resgatado de Sodoma Deus
mandou dois anjos (Gênesis 19.1).
Isaías 6.8 “Depois
disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós?
Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim.”
Quando o profeta Isaías recebeu o seu chamado, novamente
Deus fala no plural e os anjos estavam cantando três vezes “Santo, Santo, Santo” (Isaías 6.8).
Esta manifestação da glória de Deus enchendo o templo, com adoração e o chamado
profético nos revelam a presença da Trindade.
b) A Trindade no Novo Testamento
Mateus 28.19 “Ide,
portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e
do Filho, e do Espírito Santo”.
As palavras do próprio Jesus, com o mandato para pregar o
evangelho fazendo discípulos, juntamente com a fórmula do batismo ‘em
nome do Pai do Filho e do Espírito Santo’, revela claramente a fé na Santa
Trindade.
2 Coríntios 13.13 “A graça do
Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com
todos vós.”
A bênção apostólica, repetida várias vezes pelo apóstolo
Paulo em formatos diferentes, também revela a fé na Trindade. Esta bênção é
comumente ministrada ao encerramento de cultos oficiais nas igrejas.
I João 5.7,8 “Pois há
três que dão testemunho [no céu: o Pai, a Palavra e o Espírito Santo; e estes
três são um. E três são os que testificam na terra]: o Espírito, a água e o
sangue, e os três são unânimes num só propósito”
Quando o apóstolo João fala dos três que dão testemunho no
céu, o Pai é Deus, a Palavra é Jesus, o verbo que se fez carne (João 1.1)
e o Espírito Santo de Deus. Já quando diz que três dão testemunho na terra são
o mesmo Espírito derramado sobre nós, a água como símbolo do batismo e o sangue
de Jesus que nos liberta do pecado (1 João 1.7-9).
A revelação de Deus no Antigo Testamento enfatiza o Senhor
Criador de todas as coisas, até que no Novo Testamento o Filho Jesus Cristo é
enviado para nos salvar e o Espírito Santo se derrama sobre a Igreja.
Outros textos do Novo Testamento que falam da Trindade
juntamente: Lucas
1.35; João.
14.26; Romanos 1.4; 15.30; 2 Coríntios 13.13; 1 Tessalonicenses 1.3-6; I Pedro 1.2.
3- Equívocos a respeito da Trindade
Alguns pensamentos equivocados a respeito da Trindade são:
a) Influência pagã
As seitas que não acreditam na Trindade afirmam que esta
doutrina tem origem em religiões pagãs como os cultos egípcios antigos que
tinham três deuses, contudo, a Palavra de Deus vem muito antes de todas as
culturas e não haveria porque copiar de outras religiões. Não somos politeístas
(que acreditam em vários deuses), mas somos monoteístas, cremos em um só
Senhor (Êxodo
20.3; Deuteronômio 4.35; Isaías 45.14; Efésios 4.3-6) que se manifestou em três pessoas:
Pai, Filho e Espírito Santo.
b) Adoração a Maria
Um dos maiores equívocos sobre a doutrina da Trindade é a
inserção de Maria como intercessora e até mesmo acima de todos, como mãe de
Deus. Se Maria tiver o status de mãe de Deus, então estaria acima do Senhor, o
que a faria superior ou no mínimo membro de uma ‘quadrindade’. Isso é uma
heresia porque somente Jesus é o nosso mediador (1 Timóteo 2.5).
c) Modificações
Durante a história várias heresias surgiram sobre a
Trindade afirmando que não seria um único Deus e sim três deuses separados
(Triteísmo), que seria apenas um Deus em três momentos diferentes (Modalismo).
Na verdade a doutrina da Trindade afirma que é apenas um Deus manifestado em
três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo.
4- A Divindade de Cristo
Com certeza, a maior controvérsia a respeito da Trindade é
a respeito da Divindade de Jesus e sua preexistência. Se Jesus não fosse o Deus
encarnado não poderia ter nos salvado e também não haveria a Trindade. Por isso
Jesus disse que se não fosse para o Pai, não poderia envia o Espírito (João 16.5-7).
Durante a história houveram erros de interpretação
ensinando que Jesus seria Deus, mas apenas com aparência humana (Docetismo) ou
que seria um homem que depois se tornou o Cristo (Adocionismo) e que haveria
uma hierarquia onde Jesus seria inferior ao Deus Pai (Arianismo).
a) A Divindade de Cristo no Antigo Testamento
Jesus se manifesta várias vezes como Deus antes
de seu nascimento. Em vários textos onde há uma aparição de um Anjo do Senhor,
com letra maiúscula, se refere primariamente ao próprio Deus se manifestando (Gênesis 16.7-14;
Juízes 6.11).
Gênesis 14.18-20
“Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus
Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus
Altíssimo, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que
entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo.”
Melquisedeque é um personagem que apareceu a
Abraão, sem linhagem nem origem e nunca mais retornou, por isso o autor aos
Hebreus confirma que é uma manifestação do próprio Cristo antes da sua
encarnação (Hebreus
7.1-10). Este Melquisedeque pode ser considerado o mesmo que Jesus
porque era “sem
pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de
existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote
perpetuamente” (Hebreus 7.3). Abraão foi o Pai da fé (Romanos 4.11)
e entregou o Dízimo para Melquisedeque que lhe entregou o Pão e o vinho, como
símbolo da Santa Ceia.
Gênesis 32.29,30 “Tornou
Jacó: Dize, rogo-te, como te chamas? Respondeu ele: Por que perguntas pelo meu
nome? E o abençoou ali. Àquele lugar chamou Jacó Peniel, pois disse: Vi a Deus
face a face, e a minha vida foi salva.”
Jacó lutou com Deus no vau do Jaboque (Gn 32.22-32),
embora o texto diga que era um homem (v.24 e 32) também afirma que era Deus (v.30),
conforme confirmou o profeta (Oseias 12.3,4). Então se trata de Jesus, o Deus
encarnado que se manifestou ao patriarca e ministrou a bênção do Senhor.
Daniel 3.24,25 “Então, o
rei Nabucodonosor se espantou, e se levantou depressa, e disse aos seus
conselheiros: Não lançamos nós três homens atados dentro do fogo? Responderam
ao rei: É verdade, ó rei. Tornou ele e disse: Eu, porém, vejo quatro homens
soltos, que andam passeando dentro do fogo, sem nenhum dano; e o aspecto do
quarto é semelhante a um filho dos deuses.”
O quarto homem na fornalha de fogo também pode
ser considerada uma manifestação de Jesus antes de seu nascimento, provando sua
eternidade e Divindade, bem como o propósito do Senhor para a salvação da
humanidade.
b) A Divindade de Cristo no Novo Testamento
Textos que afirmam a Divindade de Cristo no Novo Testamento:
João 1.1 e 14 “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” “E o
Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a
sua glória, glória como do unigênito do Pai.”
Jesus é o Verbo de Deus, a Palavra encarnada (logos, Λόγος)** que sempre existiu porque é o “Pai da eternidade” (Isaías 9.6).
Jesus foi enviado pelo Pai para a salvação da humanidade (João 20.21).
Colossenses 1.15-19 “Este é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a
criação; pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra,
as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados,
quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas
as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o
princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a
primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude”
Jesus é o “Deus forte” profetizado em Isaías 9.6. Na Criação do mundo
Jesus estava com o Pai criando todas as coisas. Depois Deus enviou o seu Filho
Unigênito, único e sem igual, para nos salvar (João 3.16).
I João 5.20 “Também
sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para
reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus
Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna.”
Jesus é Deus encarnado “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o
ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo,
tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana”
(Filipenses 2.6.7)
e se manifestou entre nós para nos salvar (leia Tito 2.13). Sem Jesus não há
salvação.
5- A Fórmula da Trindade
Para facilitar a compreensão da Trindade, muitos fazem uma fórmula
simples com um desenho de uma pirâmide com Deus acima e nas outras pontas Jesus
e o Espírito Santo. Dessa forma é fácil entender, contudo é preciso ir além,
explicando quem são cada uma das pessoas.
Deus, o Pai Criador de todas as coisas
Jesus, o Filho Unigênito Salvador do mundo
Espírito Santo, age com sua unção e
poder.
Na prática:
Somos salvos por Deus, através de Jesus, por obra do
Espírito Santo.
Oramos a Deus, em nome de Jesus sob a direção do Espírito
Santo.
Creia na Trindade!
CONCLUSÃO
João 10.30 “Eu e o Pai
somos um.”
A Trindade revela a essência do Deus único e uno, que nos
ama e em seu projeto Salvador enviou o seu Filho ao mundo, derramando sobre nós
o Espírito Santo que nos unge com seu poder.
Racionalmente não é fácil compreender a essência de um Deus
Trino, mas pela fé podemos verdadeiramente crer e reconhecer o Pai, o Filho e o
Espírito Santo. Esta é uma declaração poderosa que precisamos enfatizar em
nossa vida e nos cultos invocando a presença do Deus Triúno.
______________________________
Citações Bíblicas: Bíblia Revista
e Atualizada, Sociedade Bíblica do Brasil.
* STRONG, James. Dicionário Grego do Novo Testamento. Bíblia
de Estudo Palavras-Chave: Hebraico. Grego. Tradução de João Ferreira de
Almeida. Edição Revista e Corrigida. Rio de Janeiro: CPAD, 2011. Verbete
430.
** Idem, verbete 3056.